segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Hallelujah, de Leonard Cohen

Hallelujah é uma canção escrita pelo compositor canadiano Leonard Cohen. Originalmente fez parte do álbum Various Positions (1985). O tema foi gravado mais de 180 vezes por diversos artistas, tendo sido utilizado em vários filmes e emissões televisivas.

Ao ouvir esta canção, podemos constatar que a sua melodia é quase litúrgica e que nos pode conduzir facilmente a uma experiência espiritual. Hallelujah interessa-nos sobretudo porque contém diversas referências bíblicas. Para começar, o seu título é uma palavra hebraica que significa “louvai o Senhor”. É uma exclamação utilizada na liturgia e nos salmos.

O sujeito da canção parece ser David, o rei que compunha e tocava música para o Senhor. A Bíblia descreve, com efeito, que tocava harpa para acalmar o rei Saul.

“E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.” (1 Samuel 16,23)

O segundo verso da canção lembra a história de David e Betsabé:

“E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita. Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa.” (2 Samuel 11,2-4)

A narrativa descreve a maior falta do rei David: além de Betsabé ser casada, o monarca aproveitou-se do seu poder para fazer com que o marido, Urias, fosse morto:

“Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.” (2 Samuel 11,15).

Seguidamente, a composição evoca outra narrativa bíblica: “She broke your throne and she cut your hair”. Reconhecemos aqui a história de Sansão, o homem quase invencível, que foi vencido por Dalila. Ela seduziu-o, com o objectivo de encontrar o seu segredo:

“Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!” (Juízes 16,15-17)

Dalila acabaria por cortar os seus cabelos; depois, chamou os Filisteus, que o mataram.

O terceiro verso tira uma conclusão das duas histórias anteriores: “Love is not a victory march. It's a cold and it's a broken.” O amor é frio e estaladiço, pois foi o amor de uma mulher que despedaçou David e Sansão. Cohen estabelece uma ligação com a sua vida: “I have been here before I know this room, I've walked this floor”. Também ele conhece amores assim.

Depois, o autor relaciona o acto sexual com Deus: “And remember when I moved in you, The holy dove was moving too, And every breath we drew was Hallelujah.” A ligação entre a pomba e o Espírito de Deus é bem evidente na narrativa do baptismo de Jesus:

“Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba.” (Marcos 1,10)

Em hebraico e em grego, a palavra para “espírito” é a mesma para “sopro”. Compreende-se porque é que Cohen faz uma ligação entre a respiração dos amantes e a de Deus.

Leonard Cohen

“You say I took the name in vain” alude, provavelmente, a um dos dez mandamentos: “não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão” (Êxodo 20,7). O nome de Deus foi revelado a Moisés na sarça ardente: “«Eu sou aquele que sou.» Ele disse: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘Eu sou’ enviou-me a vós!»” (Êxodo 3,14)

No último verso, Cohen parece falar a Deus, dizendo-lhe que, durante a vida, fez o melhor que podia: “I'll stand before the Lord of Song With nothing on my tongue but Hallelujah”. Na sua língua, apenas subsiste uma palavra: Hallelujah.



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