segunda-feira, 8 de junho de 2015

O Papa e a Primeira Comunhão







Entrevista das crianças ao Papa Bento XVI sobre a sua Primeira Comunhão


Andreia: "Caro Papa, que recordação tens do dia da tua Primeira Comunhão?".



Antes de tudo, gostaria de dizer obrigado por esta festa da fé que me ofereceis, pela vossa presença e alegria. Agradeço e saúdo o abraço que tive de um de vós, um abraço que simboli-camente vale para vós todos, naturalmente.

Quanto à pergunta, recordo-me bem do dia da minha Primeira Comunhão. Era um lindo domingo de Março de 1936 [...]. Era um dia de sol, a igreja muito bonita, a música, eram muitas coisas bonitas das quais me lembro. Éramos cerca de trinta crianças, meninos e meninas, da nossa pequena cidade com não mais de 500 habitantes. Mas, no centro das minhas recordações alegres e bonitas está o pensamento o mesmo já foi dito pelo vosso porta-voz que compreendi que Jesus tinha entrado no meu coração, tinha feito visita justamente a mim. E com Jesus, Deus mesmo está comigo. Isto é um dom de amor que realmente vale mais do que tudo que pode ser dado pela vida; e assim estava realmente cheio de uma grande alegria porque Jesus tinha vindo até mim. E entendi que então começava uma nova etapa da minha vida, tinha 9 anos, e que então era importante permanecer fiel a este encontro, a esta Comunhão. Prometi ao Senhor, por quanto podia: "Gostaria de estar sempre contigo" e pedi-lhe: "Mas, sobretudo permanece comigo". E assim fui em frente na minha vida. Graças a Deus, o Senhor tomou-me sempre pela mão, guiou-me também nas situações difíceis. E dessa forma, a alegria da Primeira Comunhão foi o início de um caminho realizado juntos. Espero que, também para todos vós, a Primeira Comunhão que recebestes neste Ano da Eucaristia seja o início de uma amizade com Jesus para toda a vida. Início de um caminho juntos, porque caminhando com Jesus vamos bem e a vida se torna boa.


Livia: "Santo Padre, antes do dia da minha Primeira Comunhão confessei-me. Depois, confessei-me outras vezes. Mas, gostaria de te perguntar: devo confessar-me cada vez que recebo a Comunhão? Mesmo quando cometo os mesmos pecados? Porque eu sei que são sempre os mesmos".



Diria duas coisas: a primeira, naturalmente, é que não te deves confessar sempre antes da Comunhão, se não cometeste pecados graves que necessitam ser confessados. Portanto, não é preciso confessar-te antes de cada Comunhão eucarística. Este é o primeiro ponto. É necessário somente no caso em que cometes um pecado realmente grave, que ofendes profundamente Jesus, de forma que a amizade é destruída e deves começar novamente. Apenas neste caso, quando se está em pecado "mortal", isto é, grave, é necessário confessar-se antes da Comunhão. Este é o primeiro ponto. O segundo: embora, como disse, não é necessário confessar-se antes de cada Comunhão, é muito útil confessar-se com uma certa regularidade. É verdade, geralmente, os nossos pecados são sempre os mesmos, mas fazemos limpeza das nossas habitações, dos nossos quartos, pelo menos uma vez por semana, embora a sujidade é sempre a mesma. Para viver na limpeza, para recomeçar; se não, talvez a sujeira não possa ser vista, mas se acumula. O mesmo vale para a alma, por mim mesmo, se não me confesso a alma permanece descuidada e, no fim, fico satisfeito comigo mesmo e não compreendo que me devo esforçar para ser melhor, que devo ir em frente. E esta limpeza da alma, que Jesus nos dá no Sacramento da Confissão, ajuda-nos a ter uma consciência mais ágil, mais aberta e também de amadurecer espiritualmente e como pessoa humana. Portanto, duas coisas: confessar é necessário somente em caso de pecado grave, mas é muito útil confessar regularmente para cultivar a pureza, a beleza da alma e ir aos poucos amadurecendo na vida.


Andreia: "A minha catequista, ao preparar-me para o dia da minha Primeira Comunhão, disse-me que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!".


Sim, não o vemos, mas existem tantas coisas que não vemos e que existem e são essenciais. Por exemplo, não vemos a nossa razão, contudo temos a razão. Não vemos a nossa inteligência e temo-la. Não vemos, numa palavra, a nossa alma e todavia ela existe e vemos os seus efeitos, pois podemos falar, pensar, decidir, etc... Assim também não vemos, por exemplo, a corrente eléctrica, mas sabemos que existe, vemos este microfone como funciona; vemos as luzes. Numa palavra, precisamente, as coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos ver, sentir os efeitos. A electricidade, a corrente não as vemos, mas a luz sim. E assim por diante. Desse modo, também o Senhor ressuscitado não o vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde está Jesus, os homens mudam, tornam-se melhores. Cria-se uma maior capacidade de paz, de reconciliação, etc... Portanto, não vemos o próprio Senhor, mas vemos os efeitos: assim podemos entender que Jesus está presente. Como disse, precisamente as coisas invisíveis são as mais profundas e importantes. Vamos, então, ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem.


Júlia: "Santidade, dizem-nos que é importante ir à Missa aos domingos. Nós iríamos com gosto mas, frequentemente, os nossos pais não nos acompanham porque aos domingos dormem, o pai e a mãe de um amigo meu trabalham numa loja e nós, geralmente, vamos fora da cidade visitar os avós. Podes dizer-lhes uma palavra para que entendam que é importante ir à Missa juntos, todos os domingos?".



Claro que sim, naturalmente, com grande amor, com grande respeito pelos pais que, certamente, têm muitas coisas a fazer. Contudo, com o respeito e o amor de uma filha, pode-se dizer: querida mãe, querido pai, seria tão importante para todos nós, também para ti, encontrarmo-nos com Jesus. Isto enriquece-nos, traz um elemento importante para a nossa vida. Juntos encontramos um pouco de tempo, podemos encontrar uma possibilidade. Talvez até onde mora a avó há uma possibilidade. Numa palavra diria, com grande amor e respeito pelos pais, diria-lhes: "Entendei que isto não é importante só para mim, não o dizem somente os catequistas, é importante para todos nós; e será uma luz do domingo para toda a nossa família".

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Um filme a não perder... Marie Heurtin (2014)

A Linguagem do Coração (2014)
Marie Heurtin


Duração 95 minutos

Género Drama, Biografia

Origem França

Estreia em Portugal 2014-12-25


Nascida surda e cega em 1885, Marie Heurtin, de 14 anos, é incapaz de comunicar.

O pai, um artesão modesto, não consegue decidir-se a seguir o conselho do médico, que a considera "atrasada" e interná-la num asilo.

Em desespero, dirige-se ao Instituto de Larnay, perto de Poitiers, onde as religiosas providenciam apoio a jovens meninas surdas.

Apesar do ceticismo da Madre Superiora, uma jovem freira, a Irmã Margarida crê que acha consegue lidar com o "pequeno animal selvagem" que é Maria.

Inspirado em fatos reais que ocorreram na França no final do século XIX.




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ano da vida consagrada


O ano de 2015 foi proclamado pelo Papa Francisco como o Ano da vida consagrada, tendo como motivo a comemoração, a 28 de outubro de 2015, dos 50 anos do documento do Concílio Vaticano II, Perfectae Caritatis, que pedia e orientava a adequada renovação da vida religiosa. Este Ano da Vida Consagrada começou com o início do ano litúrgico a 30 de Novembro de 2015 e prolongar-se-á, até daqui a um ano, para ser concluído a 2 de fevereiro de 2016.

Quando falamos de “consagrados” referimo-nos às pessoas que vivem esta consagração batismal, com um compromisso especial, radical, de seguimento de Cristo. Podemos assinalar as seguintes:

·        As ordens religiosas e as ordens e congregações religiosas: os seus membros realizam a profissão dos conselhos evangélicos (pobreza, obediência e castidade) mediante votos públicos. Levam vida fraterna em comum e por isso vivem na mesma casa;
·        Os institutos seculares: os seus membros assumem o compromisso dos conselhos evangélicos (pobreza, obediência e castidade), mas vivem-nos no mundo, como fermento, a partir da sua própria profissão ou trabalho;
·        Os eremitas ou anacoretas: vivem num espaço mais estrito do mundo, no silêncio da solidão e da oração. Realizam a profissão pública dos três conselhos evangélicos, com votos realizados diante do bispo diocesano;
·        As virgens consagradas: esta foi a primeira forma de seguir Jesus mais de perto, que se desenvolveu na história da Igreja antiga, desde as suas origens, sobretudo depois do tempo dos mártires. Oferecem a Deus o testemunho da castidade (não tanto a pobreza e a obediência). São consagradas pelo Bispo e dedicadas ao serviço da Igreja.

Com a profissão dos votos, estas pessoas consagradas pertencem a Deus de modo pleno e exclusivo Esta pertença ao Senhor permite, a quantos a vivem de maneira autêntica, oferecer um testemunho especial ao Evangelho do Reino de Deus. Totalmente consagrados a Deus, são inteiramente entregues aos irmãos, para levar a luz de Cristo onde as trevas são mais densas e para difundir a sua esperança nos corações desanimados. Estão muitas vezes presentes nas chamadas “periferias” existenciais, em missão, nas escolas, nos hospitais, nas maternidades, nos lares, junto das vítimas de tráfego humano, comprometidas na recuperação de toxicodependentes e das vítimas da prostituição, do trabalho escravo etc.

As pessoas consagradas são, por isso, um sinal de Deus nos diversos ambientes de vida, são fermento para o crescimento de uma sociedade mais justa e fraterna, são profecia de partilha com os pequeninos e os pobres. Entendida e vivida desta forma, a vida consagrada parece-se precisamente como é realmente: um dom de Deus, um dom de Deus à Igreja, um dom de Deus ao seu Povo! Cada pessoa consagrada é um dom para o Povo de Deus a caminho. Há tanta necessidade destas presenças, que fortalecem e renovam o compromisso da difusão do Evangelho, da educação cristã, da caridade para com os mais necessitados, da oração contemplativa; o compromisso da formação humana, da formação espiritual dos jovens, das famílias; o compromisso pela justiça e pela paz na família humana. Mas pensemos um pouco no que aconteceria se não houvesse religiosas nos hospitais, nas missões, nas escolas. Mas pensai, uma Igreja sem religiosas! Não se pode imaginar: elas são este dom, este fermento que leva em frente o Povo de Deus. São grandes estas mulheres que consagram a sua vida a Deus, que levam em frente a mensagem de Jesus, a Palavra da consolação, o abraço e a ternura de Deus, com amor materno e espírito paterno, aos mais sós, aos mais pobres e fracos
A Igreja e o mundo precisam deste testemunho da alegria do evangelho, que manifesta o do amor e a misericórdia de Deus. Os consagrados, os religiosos, as religiosas são o testemunho de que Deus é bom e misericordioso, que quer consolar o seu povo (Is.40,1-2) e que nos chama à alegria. Como diz o Papa Francisco “Onde quer que haja consagrados, aí está a alegria: a alegria do vigor, a alegria de seguir Jesus, a alegria que nos dá o Espírito Santo”.

Por isso é necessário valorizar com gratidão as experiências de vida consagrada e aprofundar o conhecimento dos diversos carismas e espiritualidades. É preciso rezar para que muitos jovens respondam «sim» ao Senhor que os chama a consagrar-se totalmente a Ele para um serviço abnegado aos irmãos; consagrar a vida para servir Deus e os irmãos.

Este ano foi proposto assim pelo Papa Francisco, como ano dedicado de modo especial à vida consagrada. Os objetivos são claros, em resumo:

a) acentuar a centralidade de Cristo, através da oração, da interioridade, da formação e da reflexão partilhada;
b) gerar uma dinâmica de saída, que consolide a presença da Igreja, na sociedade, especialmente nas periferias;
c) pedir ao Senhor, na fidelidade e na esperança, que suscite vocações para a vida consagrada e que as pessoas chamadas respondam com alegria, generosidade e amor;
d) tornar visível o chamamento à vida consagrada através do testemunho;
e) elaborar um programa que oriente  para o seguimento de Cristo e para os valores cristãos em profundidade.

Na nossa paróquia, estamos a desenvolver mensalmente o momento vocacional, aos sábados de manhã, com crianças e adolescentes da catequese. Os adolescentes farão o seu retiro num convento de carmelitas. Teremos um debate sobre família e vocação. Mantemos a oração pelas vocações sacerdotais. Peçamos ao Senhor, que desperte, na nossa comunidade vocações consagradas.

Confiemos desde já esta iniciativa do Ano da Vida Consagrada à intercessão da Virgem Maria, Mãe da nossa alegria, e de são José que, como pais de Jesus, foram os primeiros por Ele consagrados e que consagraram a sua vida a Ele.

cf. Papa Francisco, Angelus, 2.2.2014

Gianna Beretta Molla - Uma Vocação Para o Amor

Quando falamos em santos geralmente imaginamos, de pronto, homens e mulheres que viveram em tempos distantes, em situações especiais, nunca em pessoas como você, eu, ou nossos amigos e vizinhos, com uma santidade "simples e acessível a todos."

Assim era Gianna Beretta Molla: uma médica, mãe de família, mas com uma vida pautada por uma religiosidade onde a Eucaristia era o centro da sua existência, e a Santíssima Virgem o seu modelo de perfeição.

Sobre ela o Cardeal Martini escreveu: "A santidade de Gianna é parecida com a de cada um de nós; ela enfrentou as mesmas dificuldades que enfrentamos do dia-a-dia, da vida profissional, da atenção à família, de acolhimento ás visitas; teve paciência nas vicissitudes de cada dia."

Gianna Beretta Molla, o décimo segundo filho do casal Alberto Beretta e Maria de Micheli, ambos da Ordem Terceira Franciscana, nasceu em Magenta, Itália, no dia 4 de outubro de 1922, dia de São Francisco.

No dia 4 de abril de 1928, com cinco anos e meio, fez a Primeira Comunhão. Desde esse dia, mesmo muito pequena, todos os dias acompanhava sua mãe à Santa Missa. Foi Crismada dois anos depois na Catedral de Bérgamo.

Datam dos seus quinze anos de idade, após um retiro, esses propósitos espirituais, que lhe acompanharam por toda a vida:

1º Faço o santo propósito de fazer tudo por Jesus. Todas as minhas ações, todos os meus desgostos ofereço-os todos a Jesus.
2º Faço o propósito de, para servir a Deus, não querer ir mais ao cinema, se não souber se ele se pode ver, se é modesto e não escandaloso e imoral.
3º Prefiro morrer a cometer um pecado mortal.
4º Quero temer o pecado mortal como se fosse uma serpente, e repito de novo: antes morrer mil vezes do que ofender o Senhor.


Foi membro atuante da Ação Católica desde a adolescência, nunca tendo se prejudicado nos estudos pelo seu serviço, tanto que, em 30 de novembro de 1949, formou-se com louvor em Medicina.

Especializou-se em Pediatria, mas freqüentou a Clínica Obstétrica Mangiagalli, pois, por seu grande amor às crianças e às mães, pretendia unir-se ao seu irmão, Padre Alberto, médico e missionário no Brasil que, com a ajuda do seu outro irmão engenheiro, Francesco, construíram um hospital na cidade de Grajaú, no Estado do Maranhão. Gianna, por sua saúde frágil, foi desaconselhada pelo Bispo Dom Bernareggi em vir para o Brasil.

Em 1954 conheceu o engenheiro Pietro Molla e sentiu o chamado à vocação do Matrimônio. Noivaram em 11 de abril de 1955 e casaram-se no dia 24 de setembro do mesmo ano, tendo a cerimônia sido presidida por seu outro irmão, Padre Giuseppe.

Ainda noiva escreveu ao seu noivo: "Quero formar uma família verdadeiramente cristã; um pequeno cenáculo onde o Senhor reine nos nossos corações, ilumine as nossas decisões, guie os nossos programas".

Dias antes do seu Matrimônio escreveu ao futuro marido: "Você não acha interessante fazermos um tríduo para nos prepararmos espiritualmente antes do casamento? Nos dias 21, 22 e 23, Santa Missa e Comunhão, você em Ponte Nuovo, eu no Santuário de Nossa Senhora da Assunção. A Senhora acolherá as nossas preces e desejos e, porque a união faz a força, Jesus não poderá deixar de escutar-nos e ajudar-nos."

Das suas anotações pessoais podemos extrair essa verdadeira pérola: "Toda vocação é vocação à maternidade: material, espiritual, moral, porque Deus nos deu o instinto da vida. O sacerdote é pai; as irmãs são mães, mães das almas. Preparar-se para a própria vocação, preparar-se para ser doador da vida... saber o que é o grande sacramento do Matrimônio".

Teve seis gravidezes, fruto do seu Matrimônio, onde quatro crianças nasceram: Pierluigi, Maria Zita, Laura e Gianna Emanuela.

Na última gestação, aos 39 anos, descobriu que tinha um fibroma no útero. Três opções lhe foram apresentadas naquele momento: retirar o útero doente, o que ocasionaria a morte da criança, abortar o feto, ou, a mais arriscada, submeter-se a uma cirurgia de risco e preservar a gravidez. Não hesitou! Disse: "Salvem a criança, pois tem o direito de viver e ser feliz!" Submeteu-se à cirurgia no dia 6 de setembro de 1961.

Com uma coerência cristã que lhe pautou a vida inteira, ainda em 1946, falando às jovens da Ação Católica dissera: "Se na realização de nossa vocação devêssemos morrer, seria esse o dia mais bonito da nossa vida!".

Deu entrada, para o parto, no hospital de Monza, na sexta-feira da Semana Santa de 1962. No dia seguinte, 21 de abril de 1962, nasceu Gianna Emanuela, a quem teve por breves instantes em seus braços. Sempre afirmou, a Bem Aventura Gianna: "Entre a minha vida e a do meu filho salvem a criança!". Entrou para o Céu no dia 28 de abril de 1962, em casa, provavelmente ouvindo as vozes das suas crianças acordando, no quarto ao lado.


Nas palavras de Dom Serafino Spreafico, Bispo Emérito de Grajaú-MA, "Santa Gianna formou-se como missionária e como tal viveu, ligada ao Brasil por vocação específica...ela agradeceu ao Brasil por tal vocação obtendo de Deus os Dois Milagres Oficiais para a Igreja."

O milagre da Beatificação aconteceu no Brasil, em 1977, na cidade de Grajaú, no Maranhão, naquele mesmo hospital onde queria ser missionária, onde foi beneficiada uma jovem protestante de nome Lúcia Silva Cirilo, que havia dado à luz uma criança morta. Uma fístula reto-vaginal, resultado de uma complicação do parto, ameaçava-lhe a vida, quando irmã Bernardina de Manaus, capuchinha que estava naquele hospital, pediu a intercessão da "irmã do Padre Alberto". A cicatrização foi imediata e a mãe doente restou curada.

Por conta da prodigiosa cura, Gianna Beretta Molla foi Beatificada pelo Papa João Paulo II, em 24 de abril de 1994, tendo sido considerada esposa amorosa, médica dedicada e mãe heróica, que renunciou à própria vida em favor da vida da filha, na ocasião da gestação e do parto.

No dia 16 de maio próximo * , João Paulo II canonizará Gianna Beretta Molla, com o sugestivo título de "Mãe de Família". Na cerimônia estarão presentes o seu marido Pietro Molla, as filhas Gianna Emanuela e Laura e o filho Pierluigi

O anúncio foi dado pelo Vaticano, em presença do Papa, pela Congregação para as Causas dos Santos, no curso da cerimônia de reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão.

"Viveu o matrimônio e a maternidade com alegria, generosidade e absoluta fidelidade à sua missão", afirmou o cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação Vaticana, na cerimônia de promulgação do decreto.

O milagre atribuído à sua intercessão foi experimentado por Elisabete Arcolino Comparini, casada com Carlos César, ambos da Diocese de Franca-SP, quando, no início do ano 2000, o quarto bebê que havia concebido começou a experimentar sérios problemas.

No terceiro mês, a jovem mãe perdeu totalmente o líquido amniótico. O feto, sem a proteção natural, devia ter perdido a vida. A intercessão da Beata Gianna foi pedida, ainda no hospital, quando, por Providência Divina, o Bispo de Franca, Dom Diógenes, visitou a jovem mãe e seu esposo, que sofriam face ao risco de perder aquela preciosa criança, bem como ao risco pelo qual passava a mãe, já que o casal se negava a retirar o feto, por conta da prescrição dos médicos que acompanhavam o caso.

Face a negativa do aborto e à intercessão da Bem Aventurada Gianna Beretta Molla, após uma gravidez sem presença de líquido amniótico; sem explicação científica, no dia 30 de maio de 2000, nasceu Gianna Maria, nome que foi dado em homenagem àquela médica e mãe heróica que, no seu desejo de Missão, mesmo sem poder ter saído de sua terra natal, realizou seus dois milagres na terra missionária, o Brasil.

Muitas graças têm sido alcançadas, em vários países, pela intercessão da Bem Aventurada Gianna Beretta Molla, especialmente por mulheres que não conseguem engravidar ou têm problemas na gestação e/ou no parto, por isso, várias crianças têm recebido o honroso nome de Gianna em agradecimento por sua intercessão. Sem dúvida sua história é um apelo à vida e contra o aborto, sendo também um testemunho precioso para os jovens que ainda estão discernindo sua vocação e, sobretudo, para as famílias, demonstrando uma santidade acessível e possível a todos.


ORAÇÃO


Ó Deus, Amante da Vida, que doaste a GIANNA BERETTA MOLLA responder com plena generosidade à vocação cristã de esposa e mãe, concede também a mim (...ou pessoa para quem quer obter a Graça...), por sua intercessão (...pedido...) como também seguir fielmente os Teus Desígnios, para que resplandeça sempre nas nossas famílias a Graça que consagra o amor eterno e à vida humana. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Teu Filho, que é Deus, e vive e reina Contigo na Unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. AMÉM.

in http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo237.shtml

Hallelujah, de Leonard Cohen

Hallelujah é uma canção escrita pelo compositor canadiano Leonard Cohen. Originalmente fez parte do álbum Various Positions (1985). O tema foi gravado mais de 180 vezes por diversos artistas, tendo sido utilizado em vários filmes e emissões televisivas.

Ao ouvir esta canção, podemos constatar que a sua melodia é quase litúrgica e que nos pode conduzir facilmente a uma experiência espiritual. Hallelujah interessa-nos sobretudo porque contém diversas referências bíblicas. Para começar, o seu título é uma palavra hebraica que significa “louvai o Senhor”. É uma exclamação utilizada na liturgia e nos salmos.

O sujeito da canção parece ser David, o rei que compunha e tocava música para o Senhor. A Bíblia descreve, com efeito, que tocava harpa para acalmar o rei Saul.

“E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.” (1 Samuel 16,23)

O segundo verso da canção lembra a história de David e Betsabé:

“E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita. Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa.” (2 Samuel 11,2-4)

A narrativa descreve a maior falta do rei David: além de Betsabé ser casada, o monarca aproveitou-se do seu poder para fazer com que o marido, Urias, fosse morto:

“Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.” (2 Samuel 11,15).

Seguidamente, a composição evoca outra narrativa bíblica: “She broke your throne and she cut your hair”. Reconhecemos aqui a história de Sansão, o homem quase invencível, que foi vencido por Dalila. Ela seduziu-o, com o objectivo de encontrar o seu segredo:

“Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!” (Juízes 16,15-17)

Dalila acabaria por cortar os seus cabelos; depois, chamou os Filisteus, que o mataram.

O terceiro verso tira uma conclusão das duas histórias anteriores: “Love is not a victory march. It's a cold and it's a broken.” O amor é frio e estaladiço, pois foi o amor de uma mulher que despedaçou David e Sansão. Cohen estabelece uma ligação com a sua vida: “I have been here before I know this room, I've walked this floor”. Também ele conhece amores assim.

Depois, o autor relaciona o acto sexual com Deus: “And remember when I moved in you, The holy dove was moving too, And every breath we drew was Hallelujah.” A ligação entre a pomba e o Espírito de Deus é bem evidente na narrativa do baptismo de Jesus:

“Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba.” (Marcos 1,10)

Em hebraico e em grego, a palavra para “espírito” é a mesma para “sopro”. Compreende-se porque é que Cohen faz uma ligação entre a respiração dos amantes e a de Deus.

Leonard Cohen

“You say I took the name in vain” alude, provavelmente, a um dos dez mandamentos: “não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão” (Êxodo 20,7). O nome de Deus foi revelado a Moisés na sarça ardente: “«Eu sou aquele que sou.» Ele disse: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘Eu sou’ enviou-me a vós!»” (Êxodo 3,14)

No último verso, Cohen parece falar a Deus, dizendo-lhe que, durante a vida, fez o melhor que podia: “I'll stand before the Lord of Song With nothing on my tongue but Hallelujah”. Na sua língua, apenas subsiste uma palavra: Hallelujah.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Jesus lhe disse: Dá-me de beber! (João 4,7)


Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e batizava mais gente do que João – na verdade, Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos- ele deixou a Judéia e foi para a Galiléia. Ora, era preciso que atravessasse a Samaria. Foi assim que ele chegou a uma cidade da Samaria chamada Sicar, não longe da terra dada por Jacó a seu filho José, lá mesmo onde se acha o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado na borda do poço. Era mais ou menos a sexta hora. Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: Dá-me de beber. Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer. Mas esta mulher, esta samaritana lhe disse: Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana? Os judeus, com efeito, não querem ter nada em comum com os samaritanos. Jesus lhe respondeu:  Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva. A mulher disse: Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa água viva? Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e seus animais? Jesus lhe respondeu: Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede; mas aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida eterna. A mulher lhe disse: Senhor, dá-me essa água, para que eu nunca mais tenha sede e não precise mais vir aqui tirar água. Jesus lhe disse: Vai, chama o teu marido e volta aqui. A mulher lhe respondeu: Não tenho marido. Jesus lhe disse: Tu dizes bem: “Não tenho marido”; tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és um profeta. Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar. Jesus lhe disse: Acredita-me, ó mulher, vem a hora em que não é nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém que adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito, os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e por isso os que o adoram devem adorar em espírito e verdade. A mulher lhe disse: Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas. Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti. Nisso, os discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem Jesus falar com uma mulher; mas ninguém lhe disse: Que procuras? Ou Por que lhe falas?  A mulher, então, abandonando o cântaro, foi à cidade e disse ao povo: Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria ele o Cristo? Eles saíram da cidade e foram ter com ele. Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: Rabi, come! Mas ele lhes disse: Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis. Nisso, os discípulos disseram entre si: Alguém lhe teria dado de comer? Jesus lhes disse: O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Vós mesmos não dizeis: Daqui a quatro meses vira a messe? Ora, eu vos digo: levantai os olhos e olhai, já os campos estão brancos para a messe! Já o ceifeiro recebe o seu salário e ajunta fruto para a vida eterna, de tal modo que aquele que semeia e aquele que colhe se alegram juntos. Pois nisso é verdadeiro o provérbio: Um é o que semeia, outro, o que colhe. Eu vos enviei para colher o que não vos custou nenhum trabalho; outros trabalharam e vós entrastes no que lhes custou tanto trabalho! Muitos samaritanos daquela cidade tinham acreditado nele por causa da palavra da mulher que afirmava: Ele me disse tudo o que eu fiz! Assim, quando chegaram junto dele, os samaritanos lhe pediram que ficassem entre eles. E ele ficou lá dois dias. Bem mais numerosos ainda foram os que creram por causa da própria palavra de Jesus; e eles diziam à mulher: Não é somente por causa dos teus dizeres que nós cremos; nós mesmos o ouvimos e sabemos que ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.
Tradução ecumênica de Biblia (TEB)


INTRODUÇÃO AO TEMA PARA O ANO DE 2015



Jesus lhe disse: Dá-me de beber! 
(João 4,7)


1. Quem bebe desta água…
Viagem, sol escaldante, cansaço, sede… “Dá-me de beber!” É um pedido de toda pessoa humana! Deus, que se fez gente em Cristo e se esvazia para compartilhar nossa humanidade (Fl 2, 6-7), é capaz de pedir à mulher samaritana: “Dá-me de beber!” (Jo 4,7). Ao mesmo tempo, esse Deus que vem ao nosso encontro oferece a água viva: “ A água que eu lhe darei se tornará uma fonte que jorrará para a vida eterna.” (Jo 4,14)
O encontro entre Jesus e a mulher samaritana nos convida a experimentar água de um poço diferente e também a oferecer um pouco da nossa própria água. Na diversidade, nos enriquecemos uns aos outros. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é um momento privilegiado para oração, encontro e diálogo. É uma oportunidade para reconhecer a riqueza e o valor que estão presentes no outro, no diferente, e para pedir a Deus o dom da unidade.
“Quem bebe desta água sempre volta” – diz um provérbio brasileiro, utilizado quando uma pessoa que nos visita vai embora. Um copo refrescante de água, chimarrão[1], tereré[2] são sinais de acolhimento, diálogo e convivência. O gesto bíblico de oferecer água a quem chega (Mt 10,42), como forma de acolhida e partilha, é algo que se repete em todas as regiões do Brasil.
O estudo e a meditação propostos neste texto para a Semana de Oração têm o objetivo de ajudar as pessoas e comunidades a perceber a dimensão dialogal do projeto de Jesus, que chamamos de Reino de Deus. O texto afirma a importância de uma pessoa conhecer e compreender sua própria identidade para que a identidade do outro não seja vista como uma ameaça. Se não nos sentimos ameaçados, estaremos capacitados para experimentar o outro como algo complementar: sozinha, uma pessoa ou uma cultura não se basta! Por isso, a  imagem que emerge das palavras “dá-me de beber” é algo que nos fala de complementaridade: beber água do poço de alguém é o primeiro passo para experimentar o modo de ser do outro. Isso leva a uma partilha de dons que nos enriquece. Quando os dons do outro são recusados, há prejuízo para a sociedade e para a Igreja.
No texto de João 4, Jesus é um estrangeiro que chega cansado e com sede. Ele precisa de ajuda e pede água. A mulher está na sua própria terra; o poço pertence a seu povo, à sua tradição. Ela é dona do balde e é ela que tem acesso à água. Mas ela também está com sede. Eles se encontram e esse encontro oferece uma inesperada oportunidade para ambos. Jesus não deixa de ser judeu porque bebeu água oferecida por uma mulher samaritana. A samaritana permanece sendo ela mesma ao acolher o caminho de Jesus. Quando reconhecemos que temos necessidades recíprocas, a complementaridade acontece em nossas vidas de modo mais enriquecedor. Esse “Dá-me de beber” nos impulsiona a reconhecer que pessoas, comunidades, culturas, religiões e etnias precisam umas das outras.
Dizer “Dá-me de beber” supõe que Jesus e a Samaritana se perguntam mutuamente sobre aquilo de que têm necessidade. Dizer “Dá-me de beber”, leva-nos a reconhecer que as pessoas e as populações na sua diversidade, as comunidades, as culturas e as religiões têm necessidade uns dos outros.
“Dá-me de beber” traz consigo uma ação ética que reconhece a necessidade que temos uns dos outros na vivência da missão da Igreja. É algo que nos impele a mudar nossa atitude, a nos comprometer com a busca da unidade no meio de nossa diversidade, através de nossa abertura para uma variedade de formas de oração e espiritualidade cristã.