sexta-feira, 23 de maio de 2014

Mês de Maio



Este mês de Maria convida-nos a multiplicar diariamente os actos de devoção e imitação da Mãe de Deus. Rezai o terço todos os dias! Deixai a Virgem Mãe possuir o vosso coração, confiando-lhe tudo quanto sois e tendes! E Deus será tudo em todos... Assim Deus vos abençoe, a vós e aos vossos entes queridos!

Papa Francisco no final da
 Audiência Geral 
no dia 14 de Maio de 2014.

sábado, 10 de maio de 2014

Igreja Santa e Pecadora.... Santos e pecadores modelos de santidade

Os santos não são heróis, mas são pecadores que seguem Jesus no caminho da humildade e da cruz: na homilia desta sexta-feira, na Casa Santa Marta, o Papa Francisco comentou a primeira leitura, que narra a conversão de São Paulo.


O Pontífice explicou o que se entende quando dizemos que a “Igreja é santa”:


Mas como pode ser santa se todos nós estamos dentro? Somos todos pecadores, aqui. E a Igreja é santa. É a esposa de Jesus Cristo e Ele a ama, Ele a santifica, a santifica todos os dias com o seu sacrifício eucarístico. E nós somos pecadores, mas numa Igreja santa. E também nós nos santificamos com esta pertença à Igreja: somos filhos da Igreja e a Mãe Igreja nos santifica, com o seu amor, com os Sacramentos do seu Esposo.


Nas suas cartas – recordou o Papa –, São Paulo fala aos santos, a nós: “pecadores, mas filhos da Igreja santa, santificada pelo Corpo e o Sangue de Jesus”:


Nesta Igreja santa, o Senhor escolhe algumas pessoas para que a santidade fique mais evidente, para mostrar que Ele é quem santifica, que ninguém santifica si mesmo, que não existe um curso para se tornar santo, que ser santo não é ser faquir ou algo desse estilo… Não! A santidade é um dom de Jesus à sua Igreja, e para mostrar isso Ele escolhe pessoas em que o seu trabalho para santificar fica evidente.

No Evangelho – observou ainda Francisco –, existem muitos exemplo de santos: há Madalena, Mateus, Zaqueu e muitos outros que nos mostram qual é a primeira regra da santidade: “é necessário que Cristo cresça e nós nos rebaixemos”.


Assim, Cristo escolheu Saulo, que era um perseguidor da Igreja. E de tão grande que era, se tornou pequeno, obedeceu. Mas Paulo não se tornou um herói, explicou o Papa. Ele, que pregou o Evangelho em todo o mundo, “terminou a sua vida com um pequeno grupo de amigos, aqui em Roma, vítima dos seus discípulos”. Do grande homem que era, morreu decapitado. “Rebaixou-se, rebaixou-se, rebaixou-se….”


A diferença entre os heróis e os santos – explicou por fim Francisco – “é o testemunho, a imitação de Jesus Cristo. Percorrer o caminho de Cristo, o caminho da cruz. Penso, afirmou ainda, nos últimos dias de São João Paulo II...”:


Não podia falar, o grande atleta de Deus, o grande guerreiro de Deus acaba assim: aniquilado pela doença, humilhado como Jesus. Este é o percurso da santidade dos grandes. Também é o percurso da nossa santidade. Se nós não nos deixarmos converter o coração por este caminho de Jesus – carregar a cruz todos os dias, a cruz ordinária, a cruz simples – e deixar que Jesus cresça; se não percorrermos este caminho, não seremos santos. Mas se o percorrermos, todos nós testemunharemos Jesus Cristo, que nos ama tanto. E daremos testemunho que, não obstante sejamos pecadores, a Igreja é santa. É a esposa de Jesus.



O poder da Cruz

Dos Sermões de Santo Efrém, diácono (Sec. IV)

Nosso Senhor foi calcado pela morte, mas Ele, por sua vez, esmagou a morte como quem pisa aos pés o pó do caminho. [...] E porque a morte não O podia devorar se Ele não tivesse corpo, nem o inferno O podia tragar se não tivesse carne, desceu ao seio de uma Virgem para tomar um corpo
que O conduzisse à região dos mortos. Mas, com esse corpo que assumira, penetrou na região dos mortos, para destruir todas as suas riquezas e arruinar os seus tesouros. [...]

O mesmo admirável Filho do carpinteiro, que conduziu a sua cruz até aos abismos da morte, que tudo devoravam, levou também o género humano para a morada da vida. E uma vez que o género humano, por causa de uma árvore, se tinha precipitado no reino das sombras, sobre outra árvore passou para o reino da vida. [...] 

Glória a Vós, que lançastes a cruz, como uma ponte sobre a morte, para que através dela passem as almas da região da morte para a vida! Glória a Vós, que assumistes um corpo de homem mortal, para o transformardes num manancial de vida em favor de todos os mortais!... Aqueles que Vos mataram, procederam para com a vossa vida como os agricultores: lançaram-na à terra como um grão de trigo; mas ela ressuscitou e fez ressurgir consigo a multidão dos homens.

Vinde, ofereçamos o sacrifício grande e universal do nosso amor e entoemos, com grande alegria, cânticos e orações Àquele que Se ofereceu a Deus no sacrifício da cruz.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Prova da Existência de Deus

    
Vimos já como Descartes, pela aplicação da dúvida metódica, assumiu a existência do cogito, isto é, da sua existência como ser pensante. Contudo, levantava-se a questão de existência do mundo que o rodeava. A negação do valor dos sentidos como meio de acesso ao conhecimento verdadeiro colocava-o, de facto, perante a situação de ter que duvidar da existência da árvore que estava naquele momento a ver.
    Descartes aceitava que o mundo tivesse sido criado por Deus, aceitava que, se Deus existisse, ele seria garantia e suporte de todas as outras verdades. Mas, como saber se Deus existe ou não? Como provar a sua existência se apenas podia ter a certeza da existência do cogito?
     Nas suas obras, Descartes apresentou três provas da existência de Deus.


1ª Prova a priori pela simples consideração da ideia de ser perfeito


    “Dado que, no nosso conceito de Deus, está contida a existência, é correctamente que se conclui que Deus existe.
    Considerando, portanto, entre as diversas ideias que uma é a do ente sumamente inteligente, sumamente potente e sumamente perfeito, a qual é, de longe, a principal de todas, reconhecemos nela a existência, não apenas como possível e contingente, como acontece nas ideias de todas as outras coisas que percepcionamos distintamente, mas como totalmente necessária e eterna. E, da mesma forma que, por exemplo, percebemos que na ideia de triângulo está necessariamente contido que os seus três ângulos iguais são iguais a dois ângulos rectos, assim, pela simples percepção de que a existência necessária e eterna está contida na ideia do ser sumamente perfeito, devemos concluir sem ambiguidade que o ente sumamente perfeito existe.”
Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 61-62.


    A prova é magistralmente simples. Ela consiste em mostrar que, porque existe em nós a simples ideia de um ser perfeito e infinito, daí resulta que esse ser necessariamente tem que existir.


2ª Prova a posteriori pela causalidade das ideias


    Descartes conclui que Deus existe pelo facto de a sua ideia existir em nós. Uma das passagens onde ele exprime melhor esta ideia é:
    “Assim, dado que temos em nós a ideia de Deus ou do ser supremo, com razão podemos examinar a causa por que a temos; e encontraremos nela tanta imensidade que por isso nos certificamos absolutamente de que ela só pode ter sido posta em nós por um ser em que exista efectivamente a plenitude de todas as perfeições, ou seja, por um Deus realmente existente. Com efeito, pela luz natural é evidente não só que do nada nada se faz, mas também que não se produz o que é mais perfeito pelo que é menos perfeito, como causa eficiente e total; e, ainda, que não pode haver em nós a ideia ou imagem de alguma coisa da qual não exista algures, seja em nós, seja fora de nós, algum arquétipo que contenha a coisa e todas as suas perfeições. E porque de modo nenhum encontramos em nós aquelas supremas perfeições cuja ideia possuímos, disso concluímos correctamente que elas existem, ou certamente existiram alguma vez, em algum ser diferente de nós, a saber, em Deus; do que se segue com total evidência que elas ainda existem.”

Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 64.

    A prova consiste agora em mostrar que, porque possuímos  a ideia de Deus como ser perfeitíssimo, somos levados a concluir que esse ser efectivamente existe como causa da nossa ideia da sua perfeição. De facto, como poderíamos nós ter a ideia de perfeição, se somos seres imperfeitos? Como poderia o menos perfeito ser causa do mais perfeito?
    Deste modo, conclui,  já que nenhum homem possui tais perfeições, deve existir algum ser perfeito que é a causa dessa nossa ideia de perfeição. Esse ser é Deus.



3ª Prova a posteriori baseada na contingência do espírito



    “Se tivesse poder para me conservar a mim mesmo, tanto mais poder teria para me dar as perfeições que me faltam; pois elas são apenas atributos da substância, e eu sou substância. Mas não tenho poder para dar a mim mesmo estas perfeições; se o tivesse, já as possuiria. Por conseguinte, não tenho poder para me conservar a mim mesmo.
    Assim, não posso existir, a não ser que seja conservado enquanto existo, seja por mim próprio, se tivesse poder para tal, seja por outro que o possui. Ora, eu existo, e contudo não possuo poder para me conservar a mim próprio, como já foi provado. Logo, sou conservado por outro.
    Além disso, aquele pelo qual sou conservado possui formal e eminentemente tudo aquilo que em mim existe. Mas em mim existe a percepção de muitas perfeições que me faltam, ao mesmo tempo que tenho a percepção da ideia de Deus. Logo, também nele, que me conserva, existe percepção das mesmas perfeições.
    Assim, ele próprio não pode ter percepção de algumas perfeições que lhe faltem, ou que não possua formal ou eminentemente. Como, porém, tem o poder para me conservar, como foi dito, muito mais poder terá para as dar a si mesmo, se lhe faltassem. Tem pois a percepção de todas aquelas que me faltam e que concebo poderem só existir em Deus, como foi provado. Portanto, possui-as formal e eminentemente, e assim é Deus.”
Descartes, Oeuvres, VII, pp. 166-169.

    Descartes demonstra agora a existência de Deus a partir do facto de que não nos podemos conservar a nós próprios. Se não podemos garantir a nossa existência, mas apesar disso existimos, é porque alguém nos pode garantir essa existência.

CRUCIFIXO

«Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela cruz?
- Aquele, filho, é Jesus...
É a santa imagem dele!
«E quem é Jesus? – É Deus!
«E quem é Deus? – Quem nos cria,
Quem nos manda a luz do dia
E fez a terra e os céus;
E veio ensinar à gente
Que todos somos irmãos,
E devemos dar as mãos
Uns aos outros irmãmente:
Todo amor, todo bondade!
«E morreu? – Para mostrar
Que a gente pela Verdade
Se deve deixar matar.

João de Deus (1830-1896)


Multiplicação dos pães = milagre da partilha

         A multiplicação dos pães levou a multidão a considerar Jesus como o verdadeiro profeta, aquele que todos esperavam, desde longa data. O fato de ter alimentado uma imensa multidão, contando apenas com cinco pães de cevada e dois peixes, revelou-se como sinal inequívoco da messianidade de Jesus. Daí o desejo do povo de fazê-lo rei, na esperança de que todos os seus problemas fossem resolvidos da mesma forma eficiente e rápida, que acabavam de presenciar. Foi grande a expectativa criada em torno dele.

            Todavia, Jesus não se deixou levar por tal raciocínio demasiado pragmático. O povo não havia entendido o sentido do milagre, uma vez que o consideravam apenas sob o aspecto material de superação da fome pela abundância de pão. O objetivo visado por Jesus era bem outro: ensinar a todos que a partilha fraterna é um sinal irrefutável da presença do Reino, acontecendo na história humana. Por outras palavras: a partilha é um imperativo na vida de quem aderiu ao Reino, fazendo dele o centro de sua vida. Ou seja, o milagre dependeu da postura interna de cada pessoa, e não somente da iniciativa de Jesus.

        O Mestre é o verdadeiro profeta não porque multiplicou os pães de forma prodigiosa, à revelia das pessoas, e sim, porque abriu o coração humano para o amor, muito bem expresso na partilha dos bens.