sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Jesus lhe disse: Dá-me de beber! (João 4,7)


Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e batizava mais gente do que João – na verdade, Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos- ele deixou a Judéia e foi para a Galiléia. Ora, era preciso que atravessasse a Samaria. Foi assim que ele chegou a uma cidade da Samaria chamada Sicar, não longe da terra dada por Jacó a seu filho José, lá mesmo onde se acha o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado na borda do poço. Era mais ou menos a sexta hora. Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: Dá-me de beber. Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer. Mas esta mulher, esta samaritana lhe disse: Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana? Os judeus, com efeito, não querem ter nada em comum com os samaritanos. Jesus lhe respondeu:  Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva. A mulher disse: Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa água viva? Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e seus animais? Jesus lhe respondeu: Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede; mas aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida eterna. A mulher lhe disse: Senhor, dá-me essa água, para que eu nunca mais tenha sede e não precise mais vir aqui tirar água. Jesus lhe disse: Vai, chama o teu marido e volta aqui. A mulher lhe respondeu: Não tenho marido. Jesus lhe disse: Tu dizes bem: “Não tenho marido”; tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és um profeta. Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar. Jesus lhe disse: Acredita-me, ó mulher, vem a hora em que não é nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém que adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito, os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e por isso os que o adoram devem adorar em espírito e verdade. A mulher lhe disse: Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas. Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti. Nisso, os discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem Jesus falar com uma mulher; mas ninguém lhe disse: Que procuras? Ou Por que lhe falas?  A mulher, então, abandonando o cântaro, foi à cidade e disse ao povo: Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria ele o Cristo? Eles saíram da cidade e foram ter com ele. Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: Rabi, come! Mas ele lhes disse: Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis. Nisso, os discípulos disseram entre si: Alguém lhe teria dado de comer? Jesus lhes disse: O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Vós mesmos não dizeis: Daqui a quatro meses vira a messe? Ora, eu vos digo: levantai os olhos e olhai, já os campos estão brancos para a messe! Já o ceifeiro recebe o seu salário e ajunta fruto para a vida eterna, de tal modo que aquele que semeia e aquele que colhe se alegram juntos. Pois nisso é verdadeiro o provérbio: Um é o que semeia, outro, o que colhe. Eu vos enviei para colher o que não vos custou nenhum trabalho; outros trabalharam e vós entrastes no que lhes custou tanto trabalho! Muitos samaritanos daquela cidade tinham acreditado nele por causa da palavra da mulher que afirmava: Ele me disse tudo o que eu fiz! Assim, quando chegaram junto dele, os samaritanos lhe pediram que ficassem entre eles. E ele ficou lá dois dias. Bem mais numerosos ainda foram os que creram por causa da própria palavra de Jesus; e eles diziam à mulher: Não é somente por causa dos teus dizeres que nós cremos; nós mesmos o ouvimos e sabemos que ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.
Tradução ecumênica de Biblia (TEB)


INTRODUÇÃO AO TEMA PARA O ANO DE 2015



Jesus lhe disse: Dá-me de beber! 
(João 4,7)


1. Quem bebe desta água…
Viagem, sol escaldante, cansaço, sede… “Dá-me de beber!” É um pedido de toda pessoa humana! Deus, que se fez gente em Cristo e se esvazia para compartilhar nossa humanidade (Fl 2, 6-7), é capaz de pedir à mulher samaritana: “Dá-me de beber!” (Jo 4,7). Ao mesmo tempo, esse Deus que vem ao nosso encontro oferece a água viva: “ A água que eu lhe darei se tornará uma fonte que jorrará para a vida eterna.” (Jo 4,14)
O encontro entre Jesus e a mulher samaritana nos convida a experimentar água de um poço diferente e também a oferecer um pouco da nossa própria água. Na diversidade, nos enriquecemos uns aos outros. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é um momento privilegiado para oração, encontro e diálogo. É uma oportunidade para reconhecer a riqueza e o valor que estão presentes no outro, no diferente, e para pedir a Deus o dom da unidade.
“Quem bebe desta água sempre volta” – diz um provérbio brasileiro, utilizado quando uma pessoa que nos visita vai embora. Um copo refrescante de água, chimarrão[1], tereré[2] são sinais de acolhimento, diálogo e convivência. O gesto bíblico de oferecer água a quem chega (Mt 10,42), como forma de acolhida e partilha, é algo que se repete em todas as regiões do Brasil.
O estudo e a meditação propostos neste texto para a Semana de Oração têm o objetivo de ajudar as pessoas e comunidades a perceber a dimensão dialogal do projeto de Jesus, que chamamos de Reino de Deus. O texto afirma a importância de uma pessoa conhecer e compreender sua própria identidade para que a identidade do outro não seja vista como uma ameaça. Se não nos sentimos ameaçados, estaremos capacitados para experimentar o outro como algo complementar: sozinha, uma pessoa ou uma cultura não se basta! Por isso, a  imagem que emerge das palavras “dá-me de beber” é algo que nos fala de complementaridade: beber água do poço de alguém é o primeiro passo para experimentar o modo de ser do outro. Isso leva a uma partilha de dons que nos enriquece. Quando os dons do outro são recusados, há prejuízo para a sociedade e para a Igreja.
No texto de João 4, Jesus é um estrangeiro que chega cansado e com sede. Ele precisa de ajuda e pede água. A mulher está na sua própria terra; o poço pertence a seu povo, à sua tradição. Ela é dona do balde e é ela que tem acesso à água. Mas ela também está com sede. Eles se encontram e esse encontro oferece uma inesperada oportunidade para ambos. Jesus não deixa de ser judeu porque bebeu água oferecida por uma mulher samaritana. A samaritana permanece sendo ela mesma ao acolher o caminho de Jesus. Quando reconhecemos que temos necessidades recíprocas, a complementaridade acontece em nossas vidas de modo mais enriquecedor. Esse “Dá-me de beber” nos impulsiona a reconhecer que pessoas, comunidades, culturas, religiões e etnias precisam umas das outras.
Dizer “Dá-me de beber” supõe que Jesus e a Samaritana se perguntam mutuamente sobre aquilo de que têm necessidade. Dizer “Dá-me de beber”, leva-nos a reconhecer que as pessoas e as populações na sua diversidade, as comunidades, as culturas e as religiões têm necessidade uns dos outros.
“Dá-me de beber” traz consigo uma ação ética que reconhece a necessidade que temos uns dos outros na vivência da missão da Igreja. É algo que nos impele a mudar nossa atitude, a nos comprometer com a busca da unidade no meio de nossa diversidade, através de nossa abertura para uma variedade de formas de oração e espiritualidade cristã.

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